domingo, 26 de abril de 2009

Cheiro de Sol

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Feira de antiguidades e bujigangas velhas: as moedas, as xícaras, os cálices, os relógios e as máquinas de retratos. São tantos objetos, têm as caixinhas de música, os colares, as fotos, os pratos, as taças e os leques lindos e coloridos.

A feira é uma festa para os olhos, um carnaval de cores. As gentes circulando, o sol irradiando seus raios em todas as direções também comparece e mostra seu poder calorífico e lumínico.

O cheiro de coisa velha também é forte e impregna. Ah, cheiros e odores! Foi nesse dia de sábado, que ouvi: o sol da manhã tem cheiro, sabia! Relutei a princípio e de novo ouvi: É isso mesmo, o sol nas manhãzinhas emite nos seus raios, um tênue odor de ultravioleta.

Só assim fui capaz de senti-lo, num flash muito rápido, enquanto dirigia no Alto da Boa Vista.
Tão surpreendente é a força da lembrança, que me trouxe de volta à consciência a sensação dos meus banhos de luz em Caçapava.

Era uma criança de 5 ou 6 anos com bronquite. A emissão de luz era forte e era necessário o uso de óculos protetores bem escuros, quase negros. Durante o banho, estendido sobre aquela cama metálica e fria, ficava em silêncio, quase nú, sem entender em quê, aquele calor azul poderia me ajudar a respirar melhor. Mandavam que ficasse de bruços e depois de barriga para cima. Só obedecia e respirava um ar com cheiro de ultravioleta da máquina de luz, que somente cinquenta e tantos anos depois viria redescobrir.

A sala deixava de existir tamanho o deslumbramento. Além dos limites da luz angelical, nada havia. Apenas uma solidão sentida, penetrada por um odor fino e adstringente. As narinas o percebiam de longe, assim como há pouco senti suavemente, ao fazer a curva no Alto. Uma leve impregnação de ultravioleta invisível no ar.

Agora sei o que é um verdadeiro cheiro de sol espalhado no verde das matas... e não tem nada a ver com o cheiro das bugigangas coloridas e bolorentas de guardado. Decorre dessa vivência, uma certeza, de que quanto mais abertos somos, menos bolorentos ficamos. Guardar poucos ou nenhum segredo e muitas, mas muitas lembranças...no coração.

Um comentário:

Maria de Lourdes Duquesnois disse...

Ah, a memória, da caixinha de música ao cheiro da grama molhada...esses cheiros que trazem a lembrança momentos especiais!