sexta-feira, 28 de agosto de 2009

dia

é noite profunda
___________silêncio
só flashes lampejantes
___________alumbram
não há gestos
__________nem acenos.

é manhã brumosa
__________cantante
orvalho que escorre
________pela rotunda
não há restos
_________nem desejos.

é tarde cálida
_________ruidosa
bocas inundadas
_________de palavras
não há maestros
_________nem solfejos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Canudos: Meribá do sertão

Canudos é Meribá do sertão,
flui seu aguaceiro,
oculto na pedra e
sacia o jagunceiro.

Não bato em pedra e
não ordeno quarentena
só segue quem quer seguir,
só ouve quem quer ouvir,

quem viveu, viu
a degola, a charqueada,
a baba e a raiva,
mataram, mas não morremu não.

A pedra de Meribá não saciou...só
afogou Canudos, mas não morremu não.
Eis aí, pra quem quer ver o Cocorobó,
desoculto da pedra, é só água sim.

Pensam que esquecemu,
mas não esquecemu não,
quem é jagunçu, ajagunçado é,
Canudos é Conselheiro sim.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Canudos não se rendeu




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"Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados."
trecho final de Os Sertões de Euclides da Cunha

sangues

o espesso branco do gozo
sobre o coágulo vermelho,
misturas de cores e gemidos
de tesão e de dor,
reações ambíguas do sangue,
um dueto,
um diálogo do prazer
e da dor,
um diálogo da morte
e da vida.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O sino dos senadores


sino que dobra ao passado,
chama às lembranças
e dejá-vús incontinentes,
sino que nega o presente,
não chama às mudanças
nem confia no seu Estado?!
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há homens que se dobram
às ventanias em humildade,
outros, pesados como sinos
revelam-se ocos e sem tino,
insistem na obscuridade
das imagens cínicas, que nos sobram.
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prefiro a altivez do sertanejo
às bravatas dos senadores
que gastam todo bronze do sino,
não para exaltar o destino
e sim, para acobertar fraudadores
do povo admirador de tanta grandeza.


foto: c1890 - Saint Lawrence Society Towcester)


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Bate Rebate

– Pois é, seu doutor, não sei como esse menino pode quebrar o pé chutando uma bola.
– Isso acontece, não é mesmo, Renatinho? Até os bons jogadores se machucam...Ele vai ficar com esse gesso, durante uns trintas dias. É o tempo necessário para desinchar o pé, só houve uma pequena fratura, que rapidamente soldará. Logo, logo, voltará a jogar bola.
– A minha mãe vai deixar eu jogar bola...
– Eu deixo, é só você ter cuidado...
Voltaram para casa e o Renatinho com a bota de gesso. Ao chegarem os meninos ainda jogavam bola, no mesmo local onde havia se machucado. Pararam e calados observavam o Renatinho entrar em casa. Havia um deles com um sorriso maligno.
Ele ficou amuado o tempo todo que passou com o pé quebrado, não saiu uma única vez, nem para ir à casa da Terezinha, que sempre lhe chamava para brincar, depois do colégio. O tempo passou, mas a lembrança não apagou, ficou com um pequeno defeito no pé.
­– Você não se lembra de mim?
– Não...mas, assim, vagamente, acho que me lembro...Lá da rua, em Cascadura, não é?
– Exatamente, uns vinte anos atrás, quando eu implorava para jogar bola com vocês, os mais velhos, donos da rua. Você se lembra do dia em que fui parar no hospital?
­– Não me lembro. Eu me mudei de lá.
– Se lembra sim. Você não sabe, mas hoje é o dia mais feliz da minha vida. O acaso fez com que nos encontrássemos. Agora, você apareceu aqui no clube, para fazer um teste, não é?
– É. Acho que ainda dá pra mim.
– Isso nós vamos ver. Bem, como você deve saber, eu sou o treinador daqui e sempre que vem um jogador pedir pra treinar, eu sempre peço pra eles baterem uns pênaltis, para saber se sabem chutar.
– Tá bem. Eu posso fazer, só vou calçar as chuteiras...
– Não! É sem chuteira, é descalço.
­– Descalço?
– É. Vou pegar a bola, enquanto você fica aqui e me aguarda chamar.
Renato foi ao vestiário e apanhou uma bola e seguiu para o lado oposto do campo. Pos a bola na marca do pênalti e chamou o goleiro. Depois apitou para o homem vir bater, mas mandou ele ficar no meio do campo.
– Você vai ficar aí e quando eu apitar você vem correndo e chuta com toda sua força e pontaria. Se você fizer o gol, eu deixarei que você treinar aqui, se não fizer, você deve por o pé na forma. Entendeu?
­– Entendi.
Renato recuou uns metros da bola e olhou para ambas direções, o goleiro e batedor estavam preparados. Apitou e o homem começou a correr mirando a bola e o gol. Sua velocidade foi aumentando e só faltavam poucos metros para o seu chute. Uma última olhada em direção ao goleiro e vumm. Um grito.
– Ahhh! Quebrei meu pé.
A bola de couro rolou somente alguns centímetros e o homem voou muitos metros à frente. Deitado na grama se lamentava.
– O que você fez comigo, ai ai ai?
– Pedi pra você chutar, mas você não reparou que era uma medicine ball de cinco quilos?
– Isso não se faz.
– Nem aquilo que você fez comigo, quando tinha sete anos de idade, quando você generosamente me mandou chutar uma bola de ferro, não se lembra? Passei 40 dias engessado por sua causa. Perdi aulas e fiquei com uma lesão irrecuperável. Agora é a sua vez. Pode ir por o pé na forma.
Renatinho sorria malignamente.

FIM

domingo, 16 de agosto de 2009

Ruínas Interferentes


ponto-reta-plano-épura-linha de fuga-esconso-ângulo-camada-deflexão-contraste-cor-dureza- luz-transparência-elevação-corte-bissetriz-interferência-vida-rebatimento-afeto-dureza-material-alvenaria- chapa de ferro-esquadria -vidro-céu-elemento-mar-visão-sombra-imagem

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

guarda-roupa alquímico

Sobre o guarda-roupa
havia muitas coisas e
entre elas, eu.
Era a minha torre de vigia um dia,
meu laboratório secreto no outro.
Só eu subia e
lá ficava tempos
de onde nada escapava
da alquimia das matérias
eram tantas: caixas de sapato,
castelo e ponte movediça,
gibis velhos e soldadinhos,
poções venenosas e armas mortais ,
portas secretas e espiões,
poder, intriga e traições,
tudo, tudo foi visto de cima
do meu guarda-roupa.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Verdes Verdejantes

Posted by Picasa (foto tirada no interior de um limão no pé em dia de sol)
Ah, verde
como eu gostava do verde,
verde clarinho,
quase alface, quase limão,
até a escurinha hortelã,
quase agrião.
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Ah, como gostava do verde,
das limonadas,
do sorvete gelado da kibon,
do mar do Leme ao Leblon
tudo tão verde, verde.
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Depois, deixei de gostar
do verde, nem sei explicar,
deixei de gostar.
Gostei do lilás, do jerimum
e de tantas cores
nem sei explicar.
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Hoje, me lembrei do verde,
e de todos os verdes
da minha vida,
da bola de borracha do Palmeiras,
das bolinhas de gude,
até do rayban...
dos olhos do meu pai
e da camisa cáqui do colégio.
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Todos os verdes verdejantes
da minha vida.
Pedi pra Maria: faz a limonada,
a suiça não serve, só a brasileira
bem verdinha, como o Brasil
todo vermelhinho, combina?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Cavalo Velho

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que tostão paga a banca?
sem pressão não se avança,
nem a dor se compadece a dama?
sem palavrão não há mãos na anca
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todo imberbe a si aclama
a farsa da soberba se ufana
trás a violência que arromba
me assombra e me lomba
e nada faço e só me afano
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corpo sem vida e sem dor,
sem viço e sem furor
que desperdício, senhor!
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e o rio verte água, flui e arrebenta,
quebra as pedras e nada fica,
nem margens, nem pica
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Levanta a voz. Atiça a piça!
Relincha! Relincha cavalo velho,
morde forte mesmo
com esses dentes amarelos
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Tens cabelo na língua?
Então grita, grita, fode-esfola.
bate-bate e finca
e bem esporra
Quero ver quem te amola