perambulei incontáveis vezes,
tantas foram tantas,
que me esvaziava do que me prendia,
como um rio sem margens.
Nada me continha, nem as roupas
nem as palavras, só os afetos.
Quando era humanizado
tudo me prendia em amarras
oficiais e contábeis.
Já não havia acontecimentos
tornei-me um fato, um número,
um registro cartorial
de uma máquina paranóica.
Um dia, fugi de novo,
fugi para tão longe,
que o tempo lá não era passado.
Só havia presentes ou presentes do presente.
Tudo se embricará em si mesmo.
E em si me diferenciava e vi outros como eu,
Um era leão, outro a serpente e outro uma águia.
Juntamo-nos e perambulávamos pelo presente,
no fundo éramos um só,
indivisíveis porém diferentes,
potentes e esquizos,
Nós ríamos e gargalhávamos
porque não éramos partidos
egóicos ou superegóicos,
éramos corpos, corpos desejantes
num só corpo sem órgãos.