quinta-feira, 22 de julho de 2021

Perambulação

  perambulei incontáveis vezes,

tantas foram tantas,

que me esvaziava do que me prendia,

como um rio sem margens.

Nada me continha, nem as roupas

nem as palavras, só os afetos.

Quando era humanizado

tudo me prendia em amarras

oficiais e contábeis.

Já não havia acontecimentos

tornei-me um fato, um número,

 um registro cartorial

de uma máquina paranóica.

Um dia, fugi de novo,

fugi para tão longe,

que o tempo lá não era passado.

Só havia presentes ou presentes do presente.

Tudo se embricará em si mesmo.

E em si me diferenciava e vi outros como eu,

Um era leão, outro a serpente e outro uma águia.

Juntamo-nos e perambulávamos pelo presente,

no fundo éramos um só, 

indivisíveis porém diferentes,

potentes e esquizos,

Nós ríamos e gargalhávamos

porque não éramos partidos 

egóicos ou superegóicos,

éramos corpos, corpos desejantes

num só corpo sem órgãos. 

domingo, 10 de maio de 2020











Auguste Rodin - O pensador


Momentos para pensaruma pequena reflexão sobre a tragédia que nos toma como reféns.

Quando pensamos em um inimigo invisível, sorrateiro, que nos toma silenciosamente e nos sufoca lentamente, até a agonia final, deparamo-nos com a fragilidade da vida humana sobre a Terra. Uma fragilidade que reverbera por todo o nosso corpo e demonstra o valor inócuo dos sentimentos de orgulho; de poder; de vaidade e soberba. Onde estão os arrogantes e poderosos? Com exceção de alguns líderes pueris que pensam com o umbigo, os demais sucumbiram diante da calamidade e fracasso de um mundo sustentado pela matéria e consumo.
Todos os povos habitantes deste século XXI, estão impotentes diante do sentido desta calamidade; podemos dizer que trata-se de um enigma universal, de decifra-me ou devoro-te. O micro devastando o macro. Um vírus que já deve estar entre nós mais tempo que possamos admitir, ja ceifou mais de 275 mil pessoas ao redor do mundo, na data de hoje, 10/05/2020. 
São tantas as  fantasias e pensamentos que  explicam esta pandemia, mas fica a sensação de non sense. A certeza é que vivemos a vingança da natureza devastada pela fúria por tecnologias nefastas como o exemplo de Chernobyl; derramamento de óleos; consumo exorbitante de plásticos que transformam oceanos em lixo, ou a Amazônia, que aos poucos vai sendo devastada pela voracidade dos capitalistas do agronegócio e pela complacência de uma administração federal criminosa. 
Talvez devamos gerar uma oportunidade, nestes dias de tanto sofrimento, de encontramos espaços de reflexão e pensamento. Todos nós que estamos dentro de nossas casas, com nossos filhos e pais, possamos orientarmos a desenvolver pequenas práticas, seja de ler aqueles livros que compramos e nunca lemos; ou de contação de histórias para os pequenos; de orar juntos; de meditar; de anotar os nossos sonhos; de fazer um poema ou escrever um conto; talvez fazer um bordado, sei lá, ou só pensar, são as pequenas e valiosas coisas que nunca fizemos e podemos fazer nestes momentos de internação. Este é um momento yin, como se diz no Taoísmo e devemos ser resilientes para simbolizar o sentido que o Tao no indica. Viva a vida!

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

OVO sem gema














um povo sem arte
um ovo sem gema

um povo sem gema

é o buraco da desistência

é a parede branca de cal

é a cegueira de expressão e  pulsação.

quem nāo cria, não pensa, só coisa.

só coisa de sombra,

é a experiência da coisa

perdida no tempo,

um coração sem  vida

na gema do ovo.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Mil vezes boa noite

A grande atriz francesa Juliette Binoche interpreta uma fotógrafa de guerra, que vive um conflito entre a obsessão de revelar as barbáries das guerras ao 'well faire'  ocidental e conviver com sua família.
É um papel contemporâneo exercido por muitas mulheres, que se lançam ao mundo do trabalho, com viagens extenuantes e muita pressão, enquanto os maridos vivem mais para suas casas, assumindo muitas vezes o papel milenar das mulheres.
O filme tem uma fotografia impecável e deve ser visto por todos os fotógrafos, como motivação para o exercício artístico da profissão. Embora tenha um forte apelo pela Canon, não chega a embaçar o propósito do filme.
Como mote final, a raiva me levou a fotografia, para mostrar àqueles que estão tomando café, sentados e lendo seus jornais, o horror que acontece na África. Ou, a preocupação da mídia com a Paris Hilton, saindo do táxi sem calcinha, enquanto milhares morriam no Oriente Médio.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

2017, um desejo de tantos

Estamos em 2017, quase final de Janeiro e
Vivos, acredite. Vivos sim, pela graça do Pai Celestial.
E a atitude adotar é de agradecimento, só agradecer pelo que somos.
Neste ano, novinho em folha, desejo muita coisa e quero manifestar  alguns deles:
Paz no mundo. Parece difícil desejar a paz mundial, mas devemos imaginá-la e evocar o
Seu acontecimento.
Gostaria muito de fotografar o encontro de todos os líderes em prol da paz.
Também desejo o fim da fome no planeta,
Imagino que isso possa ser possível, a partir do amor pela paz.
Quero a cura do câncer;  quero a cura da aids, das doenças transmitidas por mosquitos,
Quero ver os povos sadios, vivendo em harmonia por um bem maior.
Desejo ver o fim da ambição desmedida; dos crimes; das injustiças sociais;
Desejo o fim do ódio, do preconceito, das castas e do pré julgamento que todos fazemosuns dos outros.
Quero amar as pessoas sejam quem forem; abençoar as criancinhas e seguir sem medo de nada.
E como tudo isso é possível?
Acho que tem que ser por mim, me desarmando, evocando o amor de Deus, não julgando,
Não perdendo a fé em Jesus Cristo e caminhando em retidão, perseverando na fé e perscrutando os mistérios da criação. E, os outros também descobrindo a força da fé.
Fazer uma foto da fé e da esperança e seguir em frente.
Obrigado, Pai, por pensar nas coisas do alto.
Deus nos abençoe para sempre, amém.

 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Stella Open Bar
















A quietude da noite é rompida
pelos roncos dos motores cromados.
Velozes máquinas avançam pela nua estrada
com graves e compassadas explosões.

O cão  foge assustado
das negras Harleys raivosas;
eles invadem o velho Stella Open Bar 
com seus reluzentes coletes de couro.

Um soco atinge uma boca ou duas.
Cadeiras e garrafas voadoras espatifam-se pelo chão.
Ela, no canto, assiste ao show, entediada.
Vira desdenhosamente o rosto para o nada.

A fumaça do seu cigarro se expande
dissolvida na quietude da noite.
De novo, as Harleys aceleradas queimam os pneus.
Lânguida, ela sobe na garupa e parte.


O cão late, o neon  tremula o vermelho
que se apaga na noite já quieta.






domingo, 21 de junho de 2015

Fibonacci


 Em escadas de concreto

presunçosos e ressentidos


São tantos e tantos
esses presunçosos e ressentidos
Malditos sejam todos!
Nas intrigas e perfídias, oh insanos,
abrigam-se no lodo da malícia
e envoltos pela eterna sentença,
cumprem em Caim
o destino do escárnio e da inveja.

À solapa penetram seus venenos
nos ouvidos ingênuos
de Otelos seculares,
persuadidos por vis temores,
sucumbem aos conflitos da alma
e rendidos,
desferem o golpe mortal.

Diante do ardil dos fracos covardes,
que jamais herdarão
a pujança dos heróis
e as mãos de Desdemôna,
Fica a dor e o irreparável
a serem transmutados e arrebatados
ao Valhala.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Contos em alta: canadense ganha Nobel de literatura

Alice Munro, escritora canadense de 82 anos, arrematou o grande premio de literatura do mundo. E , pasmem, ela é uma contista. Quem pensava que os contos eram um subproduto da literatura, sem o mesmo peso e importância dos romances teve seu queixo caído.
A Academia Sueca está no compasso da vida atual, compreendendo a importância dos contos no cotidiano da vida atual. O prêmio não significa um sinal do fim dos grandes romances, mas indica que as novelas e pequenas estórias têm um significativo papel na literatura so século XXI.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

BLACK BLOC: hiperatividade muda


Os Black Bloc estão desempenhando um papel
de guerrilheiros urbanos, cuja função principal é
aderir a qualquer movimento organizado e legítimo, que sai às ruas para expressar algum descontentamento  contra o Estado. Mas, aderir
por aderir pode ser um engano e o que se quer saber é: qual é a sua voz? Passagens de ônibus baratas? Abaixo o Renan Calheiros? Tá certo, mas está faltando pauta, está faltando voz, está faltando política de luta.

Baderneiros ou  arruaceiros, que quebram tudo por quebrar é fascismo  ou surto psicótico.
O lumpem, como Marx definiu, era a escória incapaz de se envolver em um programa pré-definido  de ações, que buscava transformações sociais de médio e longo prazo. Aí estavam os mendigos, os abandonados, os loucos soltos, os ladrões e os cracudos. Tenham atenção para isso. Não creio que os Black Bloc sejam  constituídos de lumpem, mas então, revelem suas intenções políticas.

O Anarquismo como foi pensado por Proudhom, por Malatesta e tantos outros tinham voz e visão. Quando eles lutaram contra os fascistas, imperadores e tiranos. Sair   às ruas sem uma pauta e sem coesão política e principalmente sem voz interna de formação de princípios é tão-somente um despropósito.

Os professores aceitaram a presença dos Black Bloc nas próximas manifestações e isso implica na formação de aliados institucionais, o que confere uma alteração de força. Agora só falta falar.

(Crédito: Cris Faga / Fox Press Photo / Agência O Globo)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O berço de Dioniso

Eis que o momento é chegado,
chegado o tempo do vazio,
o tempo como lugar,
coisa essa que não era para ser.
O tempo como espaço,
vago,
vago de si,
vago de ser,
de passar pela vida,
pela vida dos outros,
da sua,
do cavalo,
das pedras,
das flores...

Vago de si, sem amarras cruéis,
aí o tempo é lugar,
o lugar do tempo vazio.
Ao tropeçar no meu  vazio
me arraso,
como um refluxo das águas,
que se retraem ao oceano,
num refluxo sem fim,
puxando todos os corpos, todas as almas,
todas as vidas, para um um lugar sem fim,
onde me sinto solto,
livre das horas e das eras,
onde o tempo não é mais tempo, um Hades.

Nessa fervura de refluxos de tempos e lugares,
não há ligações,
não há sentimentos, nem apêgos, nem medos, nem ãnsias, nem desejos.
Somente nada de vontade,
sem esperas, sem expectativas, sem cobranças.
Só ser!

Aqui, enfim, é o berço, o berço de Dioniso,
aquele que ria de mim  acorrentado
nas entranhas de Cronos.
E você?


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Linhas Aéreas

Linhas de Alta_Linhas de Baixa_Telefonias_Energias_Muflas_Chaves_
Conectores_Trafos_Medidores_Shunts_Terminais_Isoladores_Passadores_
Guias_Operadores_Consumidores_odores_Motores_
Postes_Sol_Céu.
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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mas que lombra é essa?

pitibiriba de riba deu
no quitiripapo papo
do quetilequê perdeu
o tucanaré bebé;
foi quando o urubú-meu-rei
no bico trazia a muiraquitã malsã,
que brilhava nos óio pretim
de Macunaíma tantã.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Homenagem a Lucien Freud

Máscaras fracas e baratas,
que cobrem seu rosto por encosto
e impedem o seu medo,
 o seu medo de revelar
dentro do lar, no mar
e só por trás, nesse cais
é capaz, oh rapaz
de olhar e calar
as verdades e vaidades,
banais, carnais e infernais.

Máscaras fractais, sensacionais;
máquinas faciais,
terminais,
plenas de rosticidades
nas cidades sociais e ficcionais.
É daí que você constrói
e depois rói e destrói
as máquinas trágicas, desejantes,
errantes e dominantes.

Seu rosto em carne-viva,
indefinida, dolorida e ferida,
acostumada às fachadas
risonhas e engessadas,
não quer largar,
não quer rasgar, nem chorar,
para  não revelar
a miséria do eu
doeu, doeu,
DO EU!!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cadê você?

te esperei, esperei muito
quase sucumbi por tua falta,
levantei-me,
andei um pouco e voltei.
esperei de novo,
quase sucumbi.
só não morri e por pouco,
porque não desisti.

sentei-me e aguardei,
fui servido e me refastelei,
depois, muito depois,
te vi, abraçada com um qualquer.
Levantei-me,
paguei a conta e te segui.

Não era você, era outra.
decide voltar e quando cheguei lá,
compreendi,
você era a outra,
então vi um qualquer,
perguntei pela outra.
responderam que eu era louco,
nada respondi. Segui.

Cansado parei, pra cima olhei e orei,
o que fazer,
às vezes é o que resta,
então deitei ali e fiz a sesta.
Foi quando alguém me cutucou
"aqui não pode, morou?",
morei! Fui pra casa
e lá te encontrei.
Ué?
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Bar Bartholomeu



Nessa vazada escada,
tua transparente nudez
me desvaria em resvalo.
beijo teus pés úmidos
de vapores de licor
das garrafas que não fecham mais.

no alto, a sombra te consome
e ainda te vejo nua, leve,
diáfano corpo de pecado,
que mesmo consumida
pela voraz paixão,
te alimento de perdição.
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terça-feira, 5 de julho de 2011

Nostálgica Harley

Para vocês se lembrarem de mim
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Flores

Os amores,
os medos e vertigens,
as esperas e segredos,
os cantos e entregas
são flores.

Flores da manhã de
 infantis alegrias,
recebem as graças solares,
de azuis sem mistério,
exalam nos ares de todos os presentes.

Outras, noturnas,
vicejam damas da noite,
perfumadas
de segredos lascivos.
Em lentos olhares
flertam com inocentes
homens
promíscuos desejos,
quase mortais.

À tarde,
sempre à tarde,
vicejam as tardias
no despertar,
que mergulham  fundo
no fastio e
abrem-se ao passado,
e lembram, lembram
de todas as flores passadas.
São elas, as flores de antes,
do passado tardio,
onde os singulares amores,
medos e vertigens,
onde as esperas e segredos,
os cantos e entregas
não aconteceram.

Aconteceram pois, em flores das tardes,
 calorentas e impudicas;
aconteceram sobre suas coxas,
grudadas de suor, desnudas.
São todas elas flores da tarde,
amarelas que aguardam
as abelhas,
a campainha,
o telefone,
o latido.
Aguardam paradas
o passado.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Reserva em Adrogué

dez anos vagueando no labirinto

por espelhos quebrados,

sem ideal de desconformidade.



um labirinto de vastidões

onde os vazios são estreitos

cheios de águas brancas.



o minotauro alado sobrevoa TLÖN

não deixa recado, o mundo é dele.



o olhar escapado pelo absinto

não ameniza o abandono.

Viverei no hotel em Adrogué.