quinta-feira, 12 de março de 2009

Ressonâncias


"Tudo ressoa, mal se rompe o equilíbrio das coisas.

As árvores e as ervas são silenciosas: se o vento as agita, elas ressoam.

A água está silenciosa: o ar a move e ela ressoa.

As ondas mugem: é que algo as oprime.

A cascata se precipita: é porque falta-lhe solo.

O lago ferve: algo o aquece.

Os metais e as pedras são mudos, mas ressoam se algo os golpeia.

Assim também o homem. Se fala, é porque não pode conter-se.

Se se emociona, canta.

Se sofre, lamenta-se.

Tudo o que sai de sua boca em forma de som se deve ao rompimento de seu equilíbrio...

A palavra é o mais perfeito dos sons humanos;

a literatura, por sua vez, é a mais perfeita forma de palavra.

E assim, quando o equilíbrio se rompe,

o céu escolhe entre os homens os que são mais sensíveis e os faz ressoarem."


Han Yu (poeta chinês do sec.VIII)
foto: Baraka





2 comentários:

Savio Gomes música&poesia disse...

Belíssimo e reflexivo poema!
Oxalá, o povo brasileiro também ressoe! Estamos precisando de urgente reverberação, já é hora de sairmos da letargia de estarmos "deitados eternamente em berço explêndido"!

Não há mais equilíbrio nem Moral nem Ético, mas estaremos acomodados demais para 'ressoar'?

Saudações,
Sávio Gomes

Savio Gomes música&poesia disse...

Correção:

Onde se lê "eXplêndido", LEIA-SE "Esplêndido" que é a forma correta.

Sávio Gomes