sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Ateliê Voador - Novarina em ação

Posted by Picasa
Quem não assistiu da 1ªvez, poderá ver nessa curta temporada a reestréia do Ateliê Voador, no Espaço Cultural Sérgio Porto, Rio de Janeiro, até 25 de Outubro. Uma dramaturgia conceitual.
O que se vê é, em resumo, o que não se vê desde a Revolução Francesa. O povo pode tomar o poder um milhão de vezes e continuará refém da manipulação, porquê?
Essa é a questão, que Novarina tangencia e abrre possibilidades de reflexão. Através de textos caudalosos, que é a sua marca registrada, procura a desconstrução dos significantes e busca encontrar novos significados linguísticos, que rompam com a tirania dos controles sociais.
Senhor Boucot é um personagem manipulador, mas é uma metáfora da imagem do pensamento ocidental contemporâneo, que se realiza pela langue, a massa trabalhadora demanda entender os significados do mercado, mas nada entende, porque é operada pela pobreza dos significados da sua parole. Madame Boca é seu instrumento, através do poder ideologizante de certas práticas psicanalíticas de reprodução de poder, por exemplo.
Em suma é isso, mas isso é de vital importância para todos nós. Me faz lembrar Deleuze e Guattari no livro Linguagens Menores, que incentiva a produção de novos conceitos linguísticos, como dialetos e gírias, que desterritorializam o poder da langue.
A amplitude dessa IMAGEM DO PENSAMENTO vigente, relaciona o corpo, a sexualidade, as doenças, as profissões, a arte, a economia, as leis, a vida em si.
"Fala para os atores pensarem com os pés" , essa frase dita por Novarina, foi o mote dessa desconstrução e é pelos pés que fazemos nossas caminhadas, por que não as fazemos assim, criando novos códigos e conceitos? Esse é o grande temor do capitalismo. Códigos que ele não alcance.
A cena é bem trabalhada, os atores desempenham bem seus papéis, com um destaque especial para o Senhor Boucot(me parece um neologismo de beaucoup, bem apropriado para o que entendemos como mais-valia) e Senhora Boca, pela dificuldade de decorar um texto tão volumoso, que também se deu em A Inquietude, do mesmo autor com excelente interpretação de Ana Kfouri.
O uso de caixas de papelão é uma solução muito interessante, obtendo bons resultados de mobilidade; quanto ao figurino e luz são regulares e o som foi bem elaborado.